quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

perdi-me perdidamente em ti...



A memória confunde-se e confunde o pensamento, os dias turvam-se e conturbam-me, sucedem-se a um ritmo completamente alucinante, sei que ontem foi ontem, apenas porque hoje é hoje. Sem contudo ter a completa percepção da ordem correcta entre eles. A contagem do tempo confunde-se com os sonhos na mesma medida em que a realidade se entrelaça com obscuro, com o metafísico. A lógica do relógio e da sucessão das horas aos dias não se aplica a mim, caminho paralelamente ao tempo e ao espaço num vórtice interno da minha memória, passo pelas horas como se fossem dias, e por isso esqueço dias como se fossem horas, e anos em vidas. Tudo parte… e no entanto tudo fica! Tu foste! Mas a tua imagem perdura em mim. O teu derradeiro suspiro permanece agarrado à minha memoria… ao meu córtex… ao meu cérebro e à minha carne. Atormentas a minha existência com o barulho cego dos teus passos pela casa vazia, contemplo vultos teus percorrendo as paredes lisas, escrevendo frases despidas nas vidraças com o teu sopro, quero lê-las, mas não consigo! Não estou dormindo… mas também não estou acordado… És tu quem dorme, eu não consigo! Já tentei, tu não deixas, cingiste-me nas muralhas do tempo, numa jaula dourada, sinto as tuas mãos a puxar a minha alma para a escuridão… Para ti, e para o esquecimento!
Não recordo nenhum traço teu em particular, recordo apenas… Apenas me perdi… perdi-me perdidamente em ti! Perdi a completa noção das coisas, esqueci-me de tudo! Esqueci-me de onde, e do como também esqueci! Até do nome das coisas, aos poucos os nomes, as coisas vão-se confundindo, até os rostos perdem-se na bruma da noite minha, totalmente despojados de identidade, de um tempo e um espaço.
O que fui já nem eu próprio me recordo, nem o procuro recordar, porem já lá vão muitos dias e muitas noites desde que te foste. Possivelmente porque não interesse fazer a comparação do antes com o depois, como se fosse uma fita dos natais passados, e dos natais futuros. Talvez eu seja o Mr Scrooge e tu possivelmente tenhas sido a minha ganância… que de certa forma não te pode resistir. Fui ganancioso contigo e tu implacável comigo, como o destino o foi com os dois.

4 comentários:

Quelarinha disse...

Essas palavras têm um significado muito forte para mim... entendo-as. Não sei se da mesma forma que tu, mas tudo o que dizes faz sentido... de uma forma esmagadoramente real.

Rui disse...

Palavras transmitem sentimentos, ainda que estes possam estar escondidos no nosso mais recôndito ser. Aprecio imenso que entendas o significado delas (e dos sentimentos exprimidos) pois assim não foram em vão... ainda que isso possa significar um trajecto de vida similar ao meu. Mas significam imenso para mim como calculas, como espero que signifiquem para ti.

Quelarinha disse...

Significam muito. Deixo-te um link para perceberes até onde que ponto consigo compreender cada palavra...

http://quelarinha.blogspot.com/2009/09/quando-saudade-bate-porta.html

Rui disse...

Compreendo a tua dor... a dor de perder alguém... a dor de nada poder fazer face à maior das impossibilidade… A Morte. Face à morte, encaramos de frente a grande austeridade da humanidade… a vida sem aqueles que amamos. Como eu te entendo!!!

Adoro a musica, já agora.