domingo, 28 de fevereiro de 2010

Como é fodido, foder o amor.




Dei por mim nos últimos dias a reler um velho livro de Miguel Esteves Cardoso (que me guiou a imensas recordações, nem sempre boas… mas recordações) nas mãos de alguém a quem o havia aconselhado - uma vez que ler um livro é sempre uma experiencia pessoal e intransmissível, podendo-se gostar ou não da obra em questão, conforme os gostos de cada um.
Miguel narra o amor… e para mim o amor é um sentimento ambíguo, sempre o há-de ser!
Numa coisa o Miguel tem razão o amor é fodido… o problema é que por vezes somos nós quem fodemos o amor… e como é fodido, foder o amor. Mas ainda é pior quando é o nosso amor, a foder o amor…
Refere o Miguel, “um amor que não está parcialmente fodido, não é amor”. Claro que não concordo nem um bocadinho com a afirmação, mas vejo nitidamente a excelência da mesma, mas também a maldade nela implícita.
E se todos nós nascemos com vontade de amar e ser amados, a forma de o conseguir e se de facto o conseguimos é outra questão, muitas vezes incerta e problemática.
Se o verdadeiro amor é altruísta, então porquê que queremos o amor todo para nós? Será que para amar é realmente preciso duas pessoas, ou só apenas uma basta? Para mim a questão central… reside no facto de sabermos até que ponto o amor é egoísta! Pois se amassemos verdadeiramente, ficaríamos contentes que a pessoa que amamos encontre também ela o amor, ainda que com outra pessoa que não nós…
Claro que a afirmação é ela própria uma falácia, e apenas a referi como meio obvio para alicerçar a minha afirmação, de que o amor é em si e na sua génese é “egoísta”, exige tudo de nós para no fim nada nos dar.
O ser humano nasceu para amar… mas não para ser amado… é por isso que estamos sempre a foder o amor, é por isso que o amor é egoísta, porque no fundo, o amor bem sabe que quanto mais fodido é o amor, mais intenso ele é.
O problema é de facto saber quando o amor fica demasiado fodido para o continuarmos amar… será que é nestas alturas que devemos mandar foder o amor?
Miguel... esqueceste-te de referir está parte, mas deverias tê-lo referido,
tenho dito…

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Tua usura… desgraça minha.



As minhas lágrimas são o teu champanhe, e a minha pele abriga os teus ombros desnudados da chuva fria, a minha liberdade serve o teu propósito de cavalgares no topo do mundo. Pensas que sabes tudo, e tudo podes ter, por um punhado de dólares, pela vã esperança nua e eterna do desejo insatisfeito.
Gostas de caminhar nos detritos do que em tempos foi a minha liberdade, nem sequer sabes o meu nome mas já te banqueteaste com o meu corpo, e banhaste-te nas minhas lágrimas enegrecidas pelo desespero. Se no desespero tudo vendi, tudo te dei, e tudo consumiste! Sei-o… que o meu desespero, o meu sofrimento, indiferente para ti, é o teu deleite!
Desvias os olhos de mim e de pessoas como eu… de pessoas que caminham no trilho do destino amputado, já sem as lágrimas roubadas e com os ossos nus da carne com que em tempos te deliciaste… o teu prazer é a minha ruína… a minha realidade.
Não… Não choro! Não, porque não exista vontade de o fazer. Mas porque a desgraça tudo me levou, tudo… até o que trouxe ao mundo do ventre da minha mãe. Tudo quanto possuía me despojas-te… o meu corpo, o meu sangue e até as minhas lágrimas. Nada mais há a lamentar que possa ser curada pelo doce lavar das lágrimas a correr pela face envelhecida e empedernida pelo oxidar do tempo. Não choro… porquê chorar se já nada sinto… e não sinto, porque já nada tenho. A estrada que construis-te para ti… sobre mim, sobre os escombros da minha alma leva-me para lá dos sonhos, leva-me de volta ao pesadelo, em que te ofereci a minha carne numa bandeja de prata lavrada. Leva-me de novo ao pesadelo de ter de te olhar sem nunca te poder tocar. Hoje deglutas-te com o desfalecer dos meus ossos, após teres consumido a minha carne, o meu sangue e as minhas lágrimas. Que mais te poderei oferecer, que não seja o meu ultimo suspiro? Vais quere-lo também? Pois se é meu com certeza teu sê-lo-á … como tudo o que já tive, para teu deleite o foi. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Inspirado em "125 azul", Fica algo de muito pessoal...


















P' la janela, mal fechada

Entra já a luz do dia

Morre a sombra, desejada

Numa esperança fugi um dia


Foi uma, noite sem sono

entre saliva e suor

com um travo, de abandono

e gosto a outro sabor


Dizes-me até amanhã

que tem de ser, que te vais

porque o amanhã, sabes bem

é sempre longe demais


acendo mais um cigarro

invento mil ideais

só que amanhã sei-o bem

é sempre longe demais


P' la janela mal fechada

Chega a hora do cansaço

Vai-se o tempo desfiando

em anéis de fumo baço


Dizes-me até amanhã

que tem de ser, que te vais

porque o amanhã, sabes bem

é sempre longe demais


acendo mais um cigarro

invento mil ideais

só que amanhã sei-o bem

é sempre longe demais

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

perdi-me perdidamente em ti...



A memória confunde-se e confunde o pensamento, os dias turvam-se e conturbam-me, sucedem-se a um ritmo completamente alucinante, sei que ontem foi ontem, apenas porque hoje é hoje. Sem contudo ter a completa percepção da ordem correcta entre eles. A contagem do tempo confunde-se com os sonhos na mesma medida em que a realidade se entrelaça com obscuro, com o metafísico. A lógica do relógio e da sucessão das horas aos dias não se aplica a mim, caminho paralelamente ao tempo e ao espaço num vórtice interno da minha memória, passo pelas horas como se fossem dias, e por isso esqueço dias como se fossem horas, e anos em vidas. Tudo parte… e no entanto tudo fica! Tu foste! Mas a tua imagem perdura em mim. O teu derradeiro suspiro permanece agarrado à minha memoria… ao meu córtex… ao meu cérebro e à minha carne. Atormentas a minha existência com o barulho cego dos teus passos pela casa vazia, contemplo vultos teus percorrendo as paredes lisas, escrevendo frases despidas nas vidraças com o teu sopro, quero lê-las, mas não consigo! Não estou dormindo… mas também não estou acordado… És tu quem dorme, eu não consigo! Já tentei, tu não deixas, cingiste-me nas muralhas do tempo, numa jaula dourada, sinto as tuas mãos a puxar a minha alma para a escuridão… Para ti, e para o esquecimento!
Não recordo nenhum traço teu em particular, recordo apenas… Apenas me perdi… perdi-me perdidamente em ti! Perdi a completa noção das coisas, esqueci-me de tudo! Esqueci-me de onde, e do como também esqueci! Até do nome das coisas, aos poucos os nomes, as coisas vão-se confundindo, até os rostos perdem-se na bruma da noite minha, totalmente despojados de identidade, de um tempo e um espaço.
O que fui já nem eu próprio me recordo, nem o procuro recordar, porem já lá vão muitos dias e muitas noites desde que te foste. Possivelmente porque não interesse fazer a comparação do antes com o depois, como se fosse uma fita dos natais passados, e dos natais futuros. Talvez eu seja o Mr Scrooge e tu possivelmente tenhas sido a minha ganância… que de certa forma não te pode resistir. Fui ganancioso contigo e tu implacável comigo, como o destino o foi com os dois.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

noite surreal... em especial for my friend..."quelarinha".





À noite não, a noite é surreal... na noite todas as sobras são escuras,  todas as memorias são esquecidas, e todos os odores são varridos da memória… de ti!  Encubro-me na noite, e nela da solidão, das amarras que a tua alma deixou presas em mim. Refugio-me na noite, e está abraça-me no seus braços como seu filho, reconforta-me no seu regaço materno onde posso descansar de ti – das tuas garras, que me atormentam durante a claridade dos dias. Na noite austera demando pelo que não sei - escondido sei lá onde, mas enquanto caminho perdido na noite, encoberto pelo silêncio das ruas e vielas nuas… imundas trazidas pelo dia… Á meia-luz da noite, contudo até elas parecem sublimes. Impossível não se amar a noite sob tão bela perspectiva. Quantas são as coisas no mundo com a capacidade extraordinária de fazer do óbvio, abstracto… Da verdade em mentira... Da recordação um esquecimento!
A noite tem a particularidade do entorpecimento, tem o dom de diluir as realidades. Na noite o óbvio, facilmente se confunde com o abstracto. Embora o inverso também possa ser verdade, não é contudo tão belo… Como as verdades nunca o são.
A verdade é crua, mas nunca bela, por isso é nua, como os dias claros de sol, que parecem lindos nas manhas após as noites escuras, mas facilmente o brilho intenso me deturpa o espírito nas tardes solarengas abrasadoras, onde irremediavelmente se percebe que era bem melhor a indiferença da noite, ao despertar abrupto do dia. Após a noite, surge o dia, e este pode até chegar-se a confundir com a noite por breves momentos, como o branco se pode misturar com o preto. Mas contudo a noite nunca será cinzenta. Pode até ser abstracta, pode até ser surreal,  mas será sempre escura como eu… como a noite! E por fim como tu...

 A verdade é crua,
 Como cru é o dia.
 A noite, essa... é nua.
 Um dia foi tua.
 Agora é minha...
 Quem precisa da tua crueldade?
 Quem precisa do dia?
 Quando tem a piedade da noite nua,
 Como sua!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Se pudesse escolher…



Não tenho tristeza de morrer, medo muito menos, nunca poderei saber o que é estar morta, sem de facto morrer, sei contudo o que é estar viva e nada mais sentir, que a desprezível dor do teu amor… nada mais sinto que a dor do teu amor. Mas elas confundem-se no entanto, entrelaçam-se como dois corpos durante o sexo. Sei no entanto através dela o que é sentir-me viva, e sentir a vida no fio da navalha. Sinto-me também exausta de tanto sentir sem contudo saber aquilo que sinto. A exaustão das manhas sublimes em que desperto a teu lado em silêncio, vendo o dia a clarear, sentindo a cada amanhecer que envelheço mais um dia. Procuro em mim a resposta? Que em lado nenhum encontro… perdi-me no dia em que te encontrei... fica a pergunta para ti e para mim, ou para quem souber a resposta… quando fiquei eu assim? Que aconteceu no processo?
Quem nunca sentiu a dor do amor dilacerante? Nunca amou verdadeiramente… são uma espécie de vegetais, de carneiros, que apenas caminham no sentido dos outros. Esses nunca partilharam do meu mundo, nunca contemplaram o meu sol nunca respiraram o ar da minha boca, nem beberam água dos meus lábios. Mas no fim irão partilhar do meu destino! O meu talvez mais curto… mais cruel! Mas definitivamente mais poético e mais verdadeiro, e por fim mais intenso.
   Não quero morrer de velhice encostada a um qualquer cadeirão, a usar fralda, a urinar-me pelas pernas abaixo, num qualquer refúgio para velhos, apenas esperando a hora da sopa e quem sabe a hora da morte momentos a seguir. Não quero ir ingloriamente quando já nada há a esperar da vida, quando nem os vermes se poderem deliciar com a minha carne. Quando já nem me possa lembrar das coisas boas da vida! Do que é fazer amor… da noite e do dia… do lusco-fusco que tanto amo, e por fim de ti… do teu rosto, do calor do teu corpo, da forma bruta como me possuis. Não achas triste morrer assim?
Eu prefiro, morrer intensamente, como vivi! Quero sentir a dor de uma lâmina fria a entrar-me no ventre quente, ou a bala quente entrar-me na carne fria… quero sentir o sangue quente a esvair-se lentamente, por entre os meus dedos, e com ele a dor fria da morte á espreita. Quero entrar no infinito intensamente como só as almas selvagens o conseguem fazer.
Se pudesse escolher…
Um dia…
 Um lugar…
Um modo de morrer.
Assim seria!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

simplesmente Inês...mero pseudónimo???


A Inês, nada mais és, que apenas um mero pseudónimo. da mesma forma que Ricardo Reis o era de Pessoa... fruto da minha imaginação... ou daí talvez não. O facto inegável é que Inês morreu. Num sentido figurativo? Fica a Questão...

 A noite parte, dá lugar ao dia, queria partir com ela, deixando os espíritos perversos que consomem a minha sanidade. Porem quando ela parte, e tudo parte com ela, tu voltas, ficando assim as tuas lembranças enraizadas nos dias claros em mim, apavorando incessantemente a minha existência. Se ao menos os dias fossem escuros, de ténues alvorecer, inconfundíveis perante a escuridão negra da minha alma. Não poderiam os dias ser todos cinzentos de chuva, povoados de nuvens? Será que ainda assim seriam sinistros? Será que mesmo assim virias com eles? Com a noite não… essa doce e sincera amiga que ilude as chagas dos meus sentidos, entorpecidos gravada pela tua feição nas minhas retinas… pelo teu sangue nas minhas mãos… pelo odor intenso do teu sangue impregnado na minha roupa, na minha pele… Pela emanação do teu sangue quente em contacto com o gelo frio da manha… pelo último palpitar do teu coração ao quedar-se sem sangue nas veias para pulsar… pelo extinguir da chama no teu olhar. Foste-te numa manha clara de verão, ainda á meia-luz, no momento exacto em o sol deturpa a noite… matei-te enquanto ainda cheiravas a sexo… quando sabe bem aquela soneca pós coito, numa execução covarde, confesso… digna de ti! Enquanto dormias pacificamente. Num acto que só tu farias… Se fosses viva dirias o mesmo… dirias que nem a viste chegar, que só acordas-te com a lâmina fria espetada nas costas quentes… num pulmão! Sem saber de onde ela veio, embora o soubesses bem quem tenha sido. Mesmo a esvair-te em sangue, não foi possível arrancar-te uma réstia de humanidade em ti, não deixas-te mesmo transmitir a percepção de frágil, de indefesa…. Os teus olhos não transmitiam ressentimento como seria expectável que o fizesse! Não pronunciaste um único gesto, uma única palavra! Podias suplicado por ajuda, apelar aos meus sentimentos e pedir misericórdia! Mas não o fizeste… Podias ter gritado, ou ainda ter-me insultado com os piores nomes a face da terra, que eram a tua especialidade, “mesmo quando eu me estava a lixar para o que dizias, lá conseguias arranjar maneira de me tirar do serio”.